Erradicar a miséria no Brasil, dar 10% do PIB brasileiro à educação...
Não, não, espera. O novo presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Daniel Iliescu, 26, sabe falar bonito e tem apego por temas grandiosos, como a demanda para dobrar os investimentos do governo em educação. Mas quer, também, remover a ideia de que a entidade só abraça temas que, de tão distantes, soam marcianos para a maioria dos jovens. A única invasão alienígena à vista, por ora, é a do carioca flamenguista em terras paulistanas: desde agosto, ele e parte da recém-empossada diretoria da UNE moram numa república em São Paulo, com ajuda de custo de R$ 2.000 "para aluguel, transporte, alimentação, telefone, farmácia e vestuário".
Estudante de ciências sociais na UFRJ, Daniel trancou este semestre para se dedicar à nova função. Eleito em julho, ele pilotará a UNE pelos próximos dois anos, com chance de reeleição. E quer mais é ver o circo pegar fogo. "Nossa caixinha de fósforo está querendo um maçarico!" É a reação incendiária de Daniel quando a Folha questiona a fama de que a UNE e o governo são assim, ó unha e carne.
Por ano, a entidade recebe R$ 2,5 milhões do governo federal, mais os R$ 2,7 milhões faturados com a emissão das carteirinhas para meia entrada. A presidente Dilma Rousseff teve apoio do órgão estudantil nas últimas eleições. Em 2010, a conta corrente engordou R$ 30 milhões --indenização paga pelo governo para a UNE construir uma nova sede, com projeto de Oscar Niemeyer, no lugar de um prédio destruído por militares durante a ditadura.
O próprio Daniel é filiado, "com muito orgulho", ao PC do B (Partido Comunista do Brasil), partido que integra a aliança dilmista. A UNE, ainda assim, "será independente", promete ele. "Estou cansado de retratos caricatos, quadrados, conservadores sobre o que é o movimento estudantil. De que é uma organização só para partidos políticos, ou acoplada ao governo."
Ele diz que o leque da entidade abana para vários lados: da esquerda à direita, do comunista PC do B ao conservador DEM, passando por minorias, como o movimento LGBT, e pela galera apolítica.
O último congresso da UNE, em julho, é prova dessa diversidade, segundo o universitário. "Foram 10 mil estudantes em Goiânia, de 800 municípios diferentes. Alguns pegam 22 horas de barco até Belém para, depois, encarar 50 horas de ônibus até Brasília!"
A ideia, segundo Daniel, é estar com todos --e em todas. "A UNE, por pretender ser uma entidade do tamanho do Brasil, por ter se metido em tantas lutas, deve ter opinião para tudo. Desde relações internacionais até a marcha das margaridas [sim elas existe e reúne mulheres sindicalistas]."
Nenhum comentário:
Postar um comentário